segunda-feira, março 23, 2009

«Torre Bela, Condessa de» - Dr. Manuel Pedro Freitas

TORRE BELA, Condessa de

A condessa de Torre Bela, D. Filomena Gabriela Correia Henriques de Bettencourt Atouguia Brandão de Noronha, nasceu a 18 de Março de 1839, em Belém (Lisboa), tendo falecido, aos 86 anos de idade, no Funchal, no dia 9 de Agosto de 1925, no seu Palacete do Largo do Colégio. Inicialmente sepultada no cemitério das Angústias, os seus restos mortais, viriam, posteriormente a serem transladados para jazigo no cemitério de Câmara de Lobos.
Era filha única (uma sua irmã havia falecido aos 2 anos de idade) e herdeira dos segundos viscondes de Torre Bela, João Correia Henriques de Noronha Brandão e D. Isabel Joaquina Correia de Atouguia e Vasconcelos, filha herdeira do morgado João Manuel de Atouguia, Governador do forte da Conceição, do Ilhéu. Era neta do primeiro visconde de Torre Bela, Fernando José Correia Brandão Bettencourt de Noronha Henriques [1] e de D. Emília Henriqueta Pinto de Sousa Coutinho, dama da ordem de S. João de Jerusalém, filha dos primeiros viscondes de Balsemão.
Descendia em linha recta do célebre companheiro de Zarco, João Afonso Correia, que instituiu o morgadio da Torre em Câmara de Lobos, com nobres casas e engenhos e fundou para jazigo de família a capela do Espírito Santo na igreja paroquial de Santa Maria do Calhau, que a cheia de 1803 arrastou para o mar.
Deste foi filho António Correia, a quem os contemporâneos chamavam o Grande, pela sua riqueza e liberalidade tendo gasto mais de 20.000 cruzados no serviço de El-rei, pelo que, em 1509, teve a renovação do fôro, de fidalgo, que pertencia a seus maiores. Morreu com mais de cem anos e foi sepultado na capela de S. Sebastião de Câmara de Lobos. Um bisneto deste e herdeiro dos vários vínculos instituídos pelos seus ascendentes, de nome António Correia de Bettencourt, que nasceu em 1601 e faleceu em 1670, foi quem edificou a ermida de N. S. da Boa Hora na Quinta da Torre.
A Condessa de Torre Bela, casou em St. John's Wood Westminster a 15 de Setembro de 1857, com autorização régia, com Russell Manners Gordon, súbdito britânico, que pelo seu casamento haveria de assumir o título de 3.º visconde e mais tarde, por Decreto de 6 de Setembro de 1894, haveria de ser elevado à grandeza do Reino como 1.º conde de Torre Bela. Russell Manners Gordon [2] nasceu na Quinta do Monte a 23 de Novembro de 1829. Era filho de Diogo David Webster Gordon e de D. Teodósia Arabela Pollock. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real e Comendador de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
Do casamento da Condessa de Torre Bela com Russel Manners Gordon haveria:

1. Gabriela Maria Gordon Henriques de Noronha (1861).
1. Isabel Constância Gordon Henriques de Noronha (1863) cc Charles van Beneden cc Joseph Gabriel Bolger.
1. James Murray Kenmure Gordson Correia Henriques de Noronha, 4º visconde da Torre Bela.

Na casa dos Correias Henriques incorporaram-se vários morgados, entre os quais os dos Brandões, padroeiros da igreja e hospício do Carmo e senhores da capela da Alegria, em S. Roque, sendo considerada a mais rica, logo depois da do Conde de Carvalhal. O seu solar do Funchal era na casa à rua do Comércio, actual rua dos Ferreiros, que ainda hoje ostenta, sobre a porta principal, as suas armas esculpidas em pedra. A condessa de Torre Bela, residia o antigo solar de Henrique Henriques de Noronha, grande genealogista e historiador madeirense, que a condessa também representava e que fora completamente reedificado por seu marido.
O título de visconde de Torre Bela foi concedido pela primeira vez em 17 de Dezembro de 1812, sendo sucessivamente renovado em 14 de Julho de 1823, na pessoa de João Correia Brandão Henriques de Noronha, a 11 de Setembro de 1857, na pessoa da condessa de Torre Bela, D. Filomena Gabriela Correia Henriques de Bettencourt Atouguia Brandão de Noronha, e em 28 de Março de 1889, no seu filho Diogo Murry Kenmure Gordon Correia Henriques.
Por Decreto de 6 de Setembro de 1894, Russell Manners Gordon, marido de D. Filomena Gabriela Correia Henriques de Bettencourt Atouguia Brandão de Noronha viria a ser elevado à grandeza de conde, passando a 1.º conde de Torre Bela e 3.º visconde pelo seu casamento.
Diogo Murry Kenmure Gordon Correia Henriques, 4.º visconde de Torre Bela, foi diplomata e faleceu solteiro e sem descendência, motivo pelo qual, a representação desta antiga casa viria a passar para o seu sobrinho, Dermot Bolger, filho de sua Irmã D. Isabel Constança, sem que o título de visconde tivesse sido revalidado.
Herdeira dum nobilíssimo e muito prestigioso nome e senhora duma avultada fortuna, a condessa de Torre Bela foi, em vida pela sua representação social, uma primacial figura no meio madeirense. As suas festas, dum cunho genuinamente aristocrático, ficaram tradicionais no meio elegante, marcando-se a entrada no Palacete do Colégio, recheado de preciosas jóias artísticas, como um verdadeiro grau de distinção. Por ali passaram nos seus bailes, nos seus lanches, ou nos seus elegantes chás, os mais categorizados nomes do meio e as mais representativas figuras nacionais e estrangeiras que, no seu tempo, visitaram esta ilha.
À sua nobreza de linhagem correspondia uma vincada fidalguia pessoal, na extrema delicadeza das maneiras e na prática dos seus elevados sentimentos.
A sociedade madeirense ficou a dever à condessa, vários actos de caridade e de assistência, um dos quais seria a oferta da sua propriedade Quinta de S. Filipe para a instalação da Escola de Artes e Ofícios [3].

[1] Fernando José Correia Brandão Bettencourt de Noronha Henriques, era coronel do regimento de milícias da Calheta, por ele levantado organizado e fardado à sua custa, comendador das ordens de Cristo e da Torre e Espada, do conselho de El-rei D. João VI, ministro plenipotenciário e enviado extraordinário a Hamburgo Stockolmo, Berlim, Viena, Nápoles, etc..
[2] Os Gordons eram de origem escocesa. Seu pai era David Webster Gordon, que foi o primeiro desta ilustre família que veio para esta ilha, tendo sido sócio da importante firma exportadora de vinhos Cossart, Gordon & e C.º, tendo construído a Quinta do Monte, que em 1925, pertencia à família Rocha Machado. Seu trisavô era o célebre Lord Kenmure, que foi degolado na Torre de Londres em 24 de Fevereiro de 1716 por ordem de Jorge I, por ser partidário de James Stewar, pretendente à coroa de Inglaterra. Eram seus tios, Murry Gordon, almirante da marinha inglesa e Guilherme Gordon, coronel das Guardas da Rainha (Scots Fusilier Gards) que foi ferido e ficou prisioneiro na batalha de Talavira (Guerra Peninsular).
[3] Diário da Madeira, 11 de Agosto de 1925.

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