segunda-feira, março 16, 2009

«Dr. António Vitorino de Castro Jorge» - Dr. Manuel Pedro Freitas

Era natural do Funchal, onde nasceu à rua de Santa Maria, freguesia de Santa Maria Maior, a 2 de Novembro de 1913, tendo falecido a 3 de Dezembro de 2004, aos 91 anos de idade. Era filho de Luís Jorge e de D. Josefina Antónia de Castro e Jorge.
Casou em 1944 com D. Matilde Martins da Silva Castro Jorge, de quem teve 3 filhos.
Depois de concluir o curso do Liceu do Funchal, matriculou-se na faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra onde tirou o 1º ano, desistindo depois para se matricular na faculdade de Medicina de Coimbra, acabando posteriormente por se transferir para a Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se licenciou a 28 de Junho de 1938.
Terá permanecido em Lisboa até 1942, altura em que vem mobilizado para a Madeira como médico da Marinha. Uma vez na Madeira, ao fim de algum tempo pede passagem à vida civil, surgindo entretanto o casamento e uma sua passagem pelo Porto Santo, como Médico Municipal, cargo que exerceu durante cerca de 6 meses.
A 12 de Julho de 1944 toma posse do lugar de Médico Municipal do Concelho de Câmara de Lobos, no partido médico das freguesias do Estreito de Câmara de Lobos e Curral das Freiras, substituindo nessas funções o Dr. José Sabino de Abreu, que entretanto se havia reformado. Nestas funções manteve-se até à sua reforma ocorrida por volta de 1983. A par das suas responsabilidades, como médico municipal, exerceu até quase completar 90 anos de idade, medicina privada, como Clínico Geral.
Para além de médico, o jornalismo interessou-lhe de forma particular, tendo sido proprietário e Director do Diário da Madeira, Director do Eco do Funchal, cargo que exerceu entre 15 de Janeiro de 1959 e 5 de Janeiro de 1961 e, ainda durante algum tempo Director do semanário Zarco, órgão oficial da APAM (Associação Política do Arquipélago da Madeira), organização de que também foi dirigente e que mais tarde viria a servir de base à fundação do Partido Democrático do Atlântico (PDA).
Relativamente ao Diário da Madeira, o primeiro número tendo o nome do Dr. Castro Jorge como proprietário e Director surge a 16 de Janeiro de 1961 e o último a 2 de Julho de 1982, altura em que aproveita para se despedir dos seus leitores referindo que depois de 25 anos de luta a bem dos madeirenses havia chegado ao fim, e caso curioso coincidindo com a inauguração dum monumento ao emigrante.
Também se interessou pela política, vertente onde tem um percurso de alguma curiosidade. Com efeito, ainda que não escondendo a sua admiração por Salazar, admitindo mesmo, em 1992, numa entrevista, de ser um salazarista convicto [1], tal não impedia que antes do 25 de Abril de 1974, no seu Diário denunciasse os erros e criticasse as autoridades por aquilo que considerava mal, nomeadamente através de rubricas como o Papagaio e o Giz na Parede.
Depois do 25 de Abril de 1974 continua no seu Diário da Madeira a defender os seus ideais e valores políticos e, em consequência de um artigo intitulado "Com Quem Vivemos", cujo conteúdo foi tido como independentista, é em 15 de Maio de 1975 preso por ordem do então Governador Militar da Madeira, Brigadeiro Carlos Azeredo e depois enviado para a prisão de Caxias.
Um comunicado do Quartel General do Comando Territorial Independente da Madeira de 15 de Maio de 1975 [2], dá conta de que em 10 de Maio de 1975 haviam sido publicados no Diário da Madeira, três artigos, nomeadamente "Com quem Vivemos", "Na Madeira Vitória da Social-Democracia", uma razão para a independência e uma carta inserta na secção "Correio da Madeira", com tendências contrárias à unidade nacional e que importava apurar a sua extensão motivo porque haviam sido detidos os seus autores: António de Castro Jorge, Cesário Nunes, M. Macedo de Faria e Manuel Rodrigues.
Ao saber da sua prisão muitos estreitenses ainda se deslocaram ao GAG 2, para pedirem a sua libertação, pretensão que, no entanto, não seria atendida. Depois de dois meses de prisão o Dr. Castro Jorge é libertado e volta ao Estreito e, no dia da sua chegada, o povo presta-lhe uma grande recepção, o que atesta o carinho que lhe dedicava.
Aliás, este carinho pelo Dr. Castro Jorge, já se havia feito sentir pelo menos noutra altura, ou seja em 1955, ainda que por outras razões. No dia 31 de Maio de 1955, por ocasião da recepção popular que organizara em honra do então presidente da República General Craveiro Lopes, na sua passagem pelo Estreito, foi acometido de doença súbita, situação que o levaria posteriormente à capital, para tratamento. No seu regresso, em Julho desse ano, foi alvo de uma importante manifestação de regozijo prestada por parte da população.
Apesar do acidente de percurso, que foi a sua prisão em Caxias e que ele próprio afirma ao Diário de Notícias de 2 de Novembro de 1995, ter sido uma experiência engraçada, não o impediu de continuar a ter uma intervenção activa na política. Para além de continuar a escrever no seu Diário, aceita ser nas eleições autárquicas de 1976, candidato à presidência da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, nas listas do CDS - Centro Democrático e Social. Apesar dos bons resultados obtidos, tendo o partido que representava ganho as freguesias do Curral das Freiras e Quinta Grande, apenas conseguiu ser eleito vereador. Apesar de tudo, assume o mandato, mas na sessão camarária de 1 de Junho de 1978 demite-se, descontente com a forma como a maioria PSD estava a exercer o cargo. Segundo afirma ao DN-Revista, em 8 de Março de 1992, cansara-se com o facto do PSD aproveitar as suas ideias e depois chamá-las deles. A este propósito no acto da sua demissão refere mesmo numa alusão ao Dr. Alberto João Jardim de que não era cavalgando no Castro Jorge que o iria continuar no poder.
Antes de se comprometer com o CDS, o Dr. Castro Jorge terá chegado, em 1975, a ser abordado pelo próprio Dr. Alberto João Jardim, que se terá mesmo deslocado a sua casa, convidando-o para integrar as fileiras do PSD, o que recusou.
A 8 de Dezembro de 1978, conjuntamente com o Dr. Aragão de Freitas, Ernesto Pestana, Estevão Silva e outros, o Dr. Castro Jorge foi um dos fundadores do PDA (Partido Democrático do Atlântico), tendo ocupado a presidência da sua Comissão Instaladora e, posteriormente, a presidência da sua Direcção.
Ainda que nos últimos anos se encontre afastado da política activa, não deixa de continuar a surpreender a opinião pública por alguns dos seus apadrinhamentos políticos a nível do concelho de Câmara de Lobos.
Com efeito, em 1993 vê-mo-lo como mandatário da lista, tida como de esquerda, de cidadãos Seremos freguesia do Jardim da Serra, candidata à Junta de Freguesia do Estreito e tendo por objectivo a criação da freguesia do Jardim da Serra, a partir da desanexação da parte alta do Estreito de Câmara de Lobos. Em 1997 vê-mo-lo como mandatário da lista do Partido Socialista, candidata à presidência da Câmara Municipal de Câmara de Lobos.
Apesar das suas convicções políticas não hesita em apostar nas pessoas, mesmo que ideologicamente distantes, se confiar na sua honestidade, qualidade que era aliás, um dos valores que mais admirava em Salazar e sobre quem, em 1989, por ocasião do centenário do seu nascimento, escreveu uma pequena brochura.
Ainda que no concelho de Câmara de Lobos, o prestígio do Dr. Castro Jorge se deva à sua actividade como médico, merecendo mesmo o epíteto de Médico do Povo, o que lhe advém, não só da dedicação com que exerce a sua profissão, como principalmente à forma gratuita ou quase que gratuita como a exerce, a verdade é que ele também há alguns anos atrás esteve ligado a outras importantes iniciativas locais.
Com efeito, o seu nome está ligado a importantes iniciativas da freguesia do Estreito, nomeadamente à criação da festa das cerejas, à criação da Casa do Povo, à participação de uma representação da freguesia do Estreito, no desfile das festas das vindimas realizadas no Funchal, no ano de 1953, à realização, pela primeira vez, na Madeira, de uma festa dedicada a Santo Isidro, padroeiro dos animais.
Sobre o Dr. Castro Jorge, um motorista da Rodoeste de nome Horácio, compôs algumas quadras populares que por exprimirem o sentir do povo, não podem passar sem referência.

Nasceu em Santa Maria Maior
E para Medicina ele teve jeito
Por isso consultas veio dar
Para a freguesia do Estreito

Depois do 25 de Abril de 1974
Havia alguém que metia medo
Mandaram prender o Dr. Castro Jorge
Quem mandou foi o Brigadeiro Carlos Azeredo

De qualquer freguesia
Vêm ao Estreito bater
Vêm ao Dr. Castro Jorge
Para ele atender.

No Dr. Castro Jorge
Vale a pena esperar
Nunca deixa ninguém ir para casa
Sem ele consultar.

O Doutor Castro Jorge
É doutor da Freguesia
Atende sempre as pessoas
Com um sorriso de alegria.

Com mais de 80 anos
Ainda muita gente ele trata
Quando ele morrer
Muita gente vai achar falta.

Atende todas as pessoas
Ele nunca diz que não
Quando o Sr. Dr. morrer
Muitos chorarão.

A 18 de Maio de 1995 ao troço da estrada de acesso ao Jardim da Serra, compreendido entre a Rua da Igreja, no seu cruzamento com a Rua Capitão Armando Pinto Correia e o lugar do Calvário é dado o nome do Dr. António Vitorino de Castro Jorge. Contudo, já anteriormente, por deliberação de 3 de Setembro de 1987 havia sido dado o seu nome à rua entre o Largo do Patim e o Largo das Corticeiras, homenagem que recusou.
Para além desta rua, o nome do Dr. Castro Jorge, foi também por deliberação de 18 de Maio de 1995, dado à azinhaga que dá acesso ao seu consultório e que partindo da Rua Dr. Castro Jorge, acima da entrada para o Caminho Velho da Marinheira se estende até ao caminho Calvário - Estaleiro.

[1] CALDEIRA, Ivo. DN-Revista de 8 de Março de 1992.
[2] Jornal da Madeira do dia 16 de Maio de 1975.


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