UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
Departamento de História
Instituto de História da Arte
RAMALHO ORTIGÃO E O CULTO DOS MONUMENTOS NACIONAIS NO SÉCULO XIX
ALICE NOGUEIRA ALVES
Doutoramento em História na Especialidade de Arte, Património e Restauro
Tese orientada pela Professora Doutora Maria João Baptista Neto
2009
Resumo:
No fim do século XIX, Ramalho Ortigão publicou uma importante obra, O Culto da Arte em Portugal, onde desenvolveu um levantamento crítico de vários aspectos relacionados com a defesa e valorização do Património nacional, encarados como testemunhos da História de Portugal e elementos essenciais para a justificação da sua identidade nacional. Enquadrado num conjunto de influências nacionais e estrangeiras anteriores, assimiladas e ponderadas ao longo da sua obra literária, o autor apresentou uma visão pessoal sobre o assunto, complementada com um conjunto de propostas para a resolução de alguns dos problemas enunciados. Este interesse pelos monumentos nacionais foi acompanhado pela participação nas Comissões e Conselhos formados a partir do início da década de noventa do século XIX, exclusivamente dedicados a este problema. Através da elaboração de pareceres, muitas vezes complementados com visitas aos locais, Ramalho Ortigão tentou aplicar na prática os seus princípios, na maioria sem resultados evidentes. Segundo ele, para alterar as mentalidades era preciso começar por fomentar a educação do povo, sensibilizando-o para o valor dos seus monumentos e a sua importância na identificação da sociedade onde se integravam, sendo também imprescindível um arrolamento geral dos principais elementos a proteger e a divulgar. Na área das Artes Decorativas alcançou maior sucesso, conseguindo provar, nas exposições e Comissões onde participou a ligação entre a arte antiga e a produção das pequenas indústrias de cariz artesanal, então existentes no país e que a manutenção de tradições e a persistência de motivos decorativos tinham um papel essencial na preservação de uma Arte distinta, marcada por variações regionalistas providas de uma originalidade única, tipicamente portuguesa. Assistimos, ainda, ao seu empenhamento em prol do estudo e salvaguarda da pintura dos séculos XV e XVI, pois para ele, além das qualidades artísticas destes quadros, os elementos representados poderiam ser usados como base de estudo aprofundado da sociedade da época, uma das mais distintas da História nacional. A Comissão instituída em 1910 para a inventariação e tratamento destas pinturas só chegou a alcançar os objectivos delimitados por Ramalho Ortigão após a sua morte, ficando, assim, um dos seus principais mentores, privado de se poder orgulhar de mais esta batalha vencida em favor do património artístico nacional.
Adaptado de: http://repositorio.ul.pt/handle/10451/2401
Adaptado de: http://repositorio.ul.pt/handle/10451/2401