Quem foram os Dabney? Que importância teve esta família americana na vida açoriana do século XVIII? Tudo começou quando o Congresso americano nomeou John Bass Dabney (1766-1826) como vice-cônsul no Faial. Desde 1804 que a história dos Dabney se confunde com a da ilha, numa época que não podia ser mais caótica: invasões napoleónicas, transferência da corte portuguesa para o Brasil, guerra anglo-americana, revolução liberal.
Os "Anais da Família Dabney no Faial" estão compilados em três volumes, tendo sido impressos em 1899 por iniciativa de Roxana Lewis Dabney (1827-1913), que os intercalou com "comentários que procuravam explicar às novas gerações as personagens e as histórias passadas no então longínquo arquipélago." Há três anos, o Instituto Açoriano de Cultura (IAC) mandou traduzir e publicou os "Anais". O presente volume corresponde a uma breve antologia. A partir das 1797 páginas do original, Paulo Silveira e Sousa, responsável pela selecção, organização e notas, coligiu 540, mantendo a tradução do IAC. Maria Filomena Mónica prefaciou.
Os "Anais da Família Dabney no Faial" estão compilados em três volumes, tendo sido impressos em 1899 por iniciativa de Roxana Lewis Dabney (1827-1913), que os intercalou com "comentários que procuravam explicar às novas gerações as personagens e as histórias passadas no então longínquo arquipélago." Há três anos, o Instituto Açoriano de Cultura (IAC) mandou traduzir e publicou os "Anais". O presente volume corresponde a uma breve antologia. A partir das 1797 páginas do original, Paulo Silveira e Sousa, responsável pela selecção, organização e notas, coligiu 540, mantendo a tradução do IAC. Maria Filomena Mónica prefaciou.
John Bass Dabney, remoto descendente dos d'Aubigné, não era um diplomata de carreira. Conseguiu o lugar de vice-cônsul porque a família tinha acesso fácil ao presidente Jefferson. Na realidade, foi um aventureiro bem sucedido, a quem o "exílio" acrescentou singularidade. Nenhum preconceito no juízo. Um huguenote que atravessa o Atlântico, em 1794, em plena Revolução Francesa, trocando a Virgínia pela França com o propósito de comerciar, conseguindo, ao fim de pouco tempo, ser co-proprietário de 12 navios que ligavam a Europa às Caraíbas e aos Estados Unidos, não era exactamente o protótipo do cavalheiro. Não obstante, no prefácio, Maria Filomena Mónica fala dele como de um "brâmane" de Boston. A guerra tem razões que o comércio nem sempre domina, e John Bass foi obrigado a mudar-se de Bordéus para os Açores. A neutralidade portuguesa na guerra anglo-americana foi um factor decisivo. No Inverno de 1804 estava na Horta. A mulher e os filhos chegaram em 1807.
Sessenta anos mais tarde, ainda Mark Twain descrevia a ilha e os indígenas deste modo: "Esta comunidade é fundamentalmente composta por portugueses, quer dizer, é vagarosa, pobre, parada, adormecida e preguiçosa. [...] Qualquer português que se preze benze-se e reza a Deus para que o livre de qualquer desejo blasfemo para saber mais do que o seu pai." O futuro autor de "As Aventuras de Huckleberry Finn" (1884) fez escala no Faial a caminho da Palestina Verdade que os Dabney adoptaram a ilha como território seu até praticamente ao fim do século. O consulado americano manteve-se na família durante três gerações: o avô (John Bass), o filho (Charles William) e o neto (Samuel Willis). Por sua iniciativa, vários americanos ilustres visitaram o Faial. Nos primeiros anos, a adaptação foi difícil. Em privado, os Dabney ridicularizavam os morgados das ilhas. A dieta local era execrada: "Põem vinagre ou limão nos guisados, e até nas sopas. O pão, a coisa mais execrável que alguma vez foi provada...".
Aparentemente, a justiça funcionava bem. Isso mesmo decorre da correspondência de John Bass. O Faial ficou a dever aos Dabney a introdução de regras modernas de comportamento, espécies botânicas, maquinaria e o hábito do desporto e da vida ao ar livre. Os últimos Dabney a abandonar a ilha só o fizeram em 1892.
Paulo Silveira e Sousa, responsável pela edição, explica a razão de ser da antologia: "Fazer chegar ao grande público uma obra que, devido à sua extensão, ficaria relativamente ignorada". Para tanto, manteve a cronologia, eliminou repetições e deu particular atenção às relações da família com a sociedade açoriana, as comunidades estrangeiras e a rede de negócios: navegação, pesca da baleia, exportação de vinho e laranja, importação de quase tudo, etc. Não é, faz notar, uma edição crítica.
No essencial, a obra de Roxana Lewis Dabney é uma compilação de correspondência entre membros da família Dabney, conhecidos e autoridades, cobrindo um período que excede o dos "Anais" (1806-1871), pois tem início em 1785. O pretexto foi um esboço de biografia de seu avô Charles William, filho de John Bass, o "pioneiro". As notas de Silveira e Sousa são preciosas para o estabecimento de nexos e melhor compreensão das personagens em análise. Além de um índice remissivo e da genealogia dos Dabney, um "portfolio" fotográfico completa o volume.
http://ipsilon.publico.pt/livros/critica.aspx?id=246954
Aparentemente, a justiça funcionava bem. Isso mesmo decorre da correspondência de John Bass. O Faial ficou a dever aos Dabney a introdução de regras modernas de comportamento, espécies botânicas, maquinaria e o hábito do desporto e da vida ao ar livre. Os últimos Dabney a abandonar a ilha só o fizeram em 1892.
Paulo Silveira e Sousa, responsável pela edição, explica a razão de ser da antologia: "Fazer chegar ao grande público uma obra que, devido à sua extensão, ficaria relativamente ignorada". Para tanto, manteve a cronologia, eliminou repetições e deu particular atenção às relações da família com a sociedade açoriana, as comunidades estrangeiras e a rede de negócios: navegação, pesca da baleia, exportação de vinho e laranja, importação de quase tudo, etc. Não é, faz notar, uma edição crítica.
No essencial, a obra de Roxana Lewis Dabney é uma compilação de correspondência entre membros da família Dabney, conhecidos e autoridades, cobrindo um período que excede o dos "Anais" (1806-1871), pois tem início em 1785. O pretexto foi um esboço de biografia de seu avô Charles William, filho de John Bass, o "pioneiro". As notas de Silveira e Sousa são preciosas para o estabecimento de nexos e melhor compreensão das personagens em análise. Além de um índice remissivo e da genealogia dos Dabney, um "portfolio" fotográfico completa o volume.