Vítima das perseguiçõs do Marquês de Pombal para com a sua família, Leonor de Almeida de Portugal Lorena e Lencastre, nascida a 31 de Outubro de 1750, passou a maior parte da sua infância na cadeia, mas foi a primeira mulher portuguesa a estimular a revolução do bom gosto
O atentado contra D. José, na noite de 3 de Setembro de 1758, teve como suspeito o Duque de Aveiro e como cúmplices o Marquês e a Marquesa de Távora, os seus filhos e o Conde de Atouguia, D. Jerónimo de Almeida. D. José foi atingido na carruagem e os suspeitos presos e barbaramente justiciados em Belém.
O pai de Leonor, D. João de Almeida, Marquês de Alorna, era filho dos Marqueses de Távora e foi acusado de ter emprestado uma das armas usadas no atentado. Foi encarcerado no Forte da Junqueira e a mulher e as duas filhas, Leonor com oito anos e Maria, de seis, foram enclausuradas no Convento de S. Félix, em Chelas, local frequentado por muitos homens de letras.
Apenas o irmão, Pedro, de quatro anos de idade, ficou livre e foi admitido no Paço, vindo a morrer mais tarde, após uma carreira militar, em Koenigsberg, depois de ter acompanhado Napoleão à Rússia. Com a sua morte, o título dos Marqueses de Alorna passa para Leonor.
No convento, as duas crianças aplicam-se ao estudo das línguas e à poesia, que Leonor faz durante os dez anos de clausura. A morte de D. José e a subida ao trono de D. Maria I, liberta a família.
De enorme beleza, Leonor casa aos 18 anos com o Conde de Ceynhausen, um jovem oficial hanoveriano, vindo para Portugal com o conde reinante de Schaumbourg-Lippe. Os pais não aprovaram logo o casamento, uma vez que este significava o afastamento da filha do país. Após a sua nomeação como ministro é enviado para Viena de Aústria em 1801.
Em Viena, a vida foi difícil economicamente. Os filhos iam nascendo e o conde acaba por morrer em 1793 com 54 anos. Deixa a mulher com cinco filhos menores e uma pensão baixa, que mantêm a pobreza a rondar de perto. A Marquesa de Alorna sonha com ideias de liberdade e a sua poesia torna-se revolucionária.
De volta a Portugal, é de novo perseguida pelas suas ideias, desta vez por Pina Manique. Vê a sua casa revistada e é exilada em Londres, país que detesta. Só volta a Portugal em 1814, com enorme alegria, apesar de enfrentar enormes dificuldades financeiras. Empenha todos os seus bens, quadros e jóias e fica à mercê dos credores.
Mantém apenas uma pequena parte da casa de Alorna, onde recebe sempre os amigos, numa miséria dourada. Até com as filhas, a felicidade anda longe. Uma é amante de Junot, militar francês, sendo casada, e a outra fora raptada por um médico português fixado em Londres.
A sua residência transforma-se num foco de ebulição cultural, onde se debatem as novas ideias políticas e também as novas correntes estéticas e literárias. Presentes estão Bocage e Alexandre Herculano, em períodos diferentes. Escolhe o pseudónimo de Alcipe e trabalha em traduções de latim, alemão, inglês e francês, cultiva a epistolografia e escreve poesia, reunida em seis volumes das "Obras Poéticas da Marquesa de Alorna" (1844)
Com tantas contrariedades, Leonor, marquesa de Alorna morre em Lisboa no ano de 1839, mas a sua influência literária produziu efeitos numa época de pré-romantismo, que marca a sua poesia, aberta que era a todas as culturas do seu tempo.
Liberal, atacou as formas de despotismo, de que foi vítima e exaltou a liberdade. As suas cartas a amigos e família, constituem um documento histórico da sua época, de um espirito que viveu para lá do seu tempo.
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