Cultura tem mais um dano a chorar: A perda da biblioteca da 'Diogo's Wine Shop'
Data: 24-02-2010
Há mais um dano a lamentar, e bastante significativo, no património cultural da Região. Ontem, ouvidas as entidades, relatámos que a Cultura 'salvou-se' sem danos assinaláveis às intempéries que assolaram a Madeira; mas o Museu Biblioteca Mário Barbeito de Vasconcelos, na Avenida Arriaga (nas instalações de comércio de vinhos 'Diogo's Wine Shop' foi completamente submerso. O alerta foi-nos prestado pelo historiador Nelson Veríssimo, que temia os danos causados àquela biblioteca particular, aberta, no entanto, às visitas do público e dos investigadores. Contactado Ricardo Diogo Freitas, um dos netos do bibliófilo madeirense, este confirmou-nos que o espólio ("25 mil livros, todos eles catalogados por mim há 20 anos") está irremediavelmente perdido, com o desânimo bem patente nas suas palavras.
A biblioteca contava com numerosos livros raros coleccionados por Mário Barbeito de Vasconcelos (1905-1985), gravuras, mapas e outros documentos de significado especial. Colombo era um interesse fundamental do bibliófilo fundador, e, por esse motivo, este museu-biblioteca, criado em 1989, cedeu várias gravuras à Casa Colombo-Museu do Porto Santo. Também chegou a associar-se a uma exposição, em 1993, sobre Colombo promovida pela Universidade de Chicago.
Obras setecentistas e oitocentistas, muitos livros de viagens, ficaram totalmente irrecuperáveis, segundo Ricardo Diogo Freitas, que não espera recuperar nem 10% do acervo: os livros, disse, estiveram debaixo de água demasiado tempo... "E, se ainda fosse só a água... Mas esta lama cola-se aos livros, é completamente destruidora", queixou-se, descoroçoado pela perda da biblioteca familiar que comemorou o ano passado trinta anos de abertura ao público.
Em blogues na Internet (por exemplo, em http://arquivohistoricomadeira.blogspot.com/, já se lamentava a perda da biblioteca, e a perda "de uma das mais ricas bibliotecas sobre Cristóvão Colombo a nível mundial, com obras raríssimas e documentos únicos sobre o navegador". Nelson Veríssimo também lamentou a perda deste espólio, que considerou importante: "Ironicamente, essa biblioteca tinha uma relação dos prejuízos, dos mortos e dos desaparecidos da aluvião de 1803, que não existe noutro sítio - tal como outras coisas que eles lá tinham também eram únicas".
Luís Rocha
Nota do blogue
Transcrevo a notícia saída hoje no DN, não pelo facto de mencionar o meu blogue, preferia que tivesse sido por outra razão, mas por um infeliz comentário feito por um anónimo no DN on line.
Comentário esse que foi o seguinte:
Bem-feito, depositasse este acervo no Arquivo Regional da Madeira. Mania de quererem ter acervos históricos sem ter as mínimas condições para tal.
A minha resposta a este animal (para não usar outra expressão mais adequada a este tipo de comentário) será bem educada e limitar-se-à a algumas questões:
- Conhece o museu, a sua dimensão e localização?
- Já alguma vez o visitou?
- Em que condições os livros, gravuras e documentos estavam armazenados?
- Tem noção da dimensão, qualidade e valor deste acervo?
- A colecção foi devidamente catalogada, organizada, inventariada e acondicionada?
- Quais as razões da criação e abertura do museu?
- Porventura sabe que foram recusadas propostas para venda do espólio para o estrangeiro, por quantias muito elevadas e irrecusáveis?
- Conhece os proprietários?
- Quem era o Sr. Mário Barbeito de Vasconcelos?
- O que representa para esta família a perda deste espólio em termos emocionais?
- Sabe que estava previsto realizar obras de ampliação e beneficiação do museu e/ou mudar a localização do mesmo?
- Tem alguma noção dos custos de manutenção deste museu?
- A perda deste espólio o que representa para a cultura regional e não só?
- Esta colecção sempre esteve aberta ao público e a investigadores?
- Por onde entrou a inundação e razões?
- Os funcionários estiveram em perigo de vida?
- Quando se iniciam os trabalhos de recuperação do espólio?
Se não consegue responder a nenhuma destas questões então pense duas vezes em vez de escrever disparates e fazer insinuações de baixo carácter. Aquando das desgraças alheias surgem sempre estes iluminados a dejectar os seus julgamentos e suas sentenças.