O Valor do Livro Antigo em Portugal
João Figueiredo Pereira
José Ferreira Vicente
PREFÁCIO
O Valor do Livro Antigo em Portugal é um projecto interessante com diferentes vertentes e diferentes utilidades. Tentemos chamar a atenção para algumas delas, as que nos parecem mais importantes.
A priori, poderá dizer-se que a sua vertente principal é permitir – quer ao coleccionador quer ao bibliotecário quer ao comerciante quer ao investigador quer ao público em geral – saber o preço médio que determinado livro tem obtido no mercado ao longo dos últimos anos (1990-2003). Aparentemente seria essa a sua grande finalidade, o seu grande objectivo. Mas será assim, ou apenas assim? Certamente que não. Mas mesmo dentro deste aspecto mais "comercial", conhecer o valor do livro pode ser importante e chamar a atenção para o exemplar em apreço.
Em primeiro lugar, temos de compreender que os preços apresentados são os que determinados exemplares alcançaram neste e naquele leilão. E ambas as condições (exemplar e leilão) são importantes. Existem exemplares de uma mesma obra que podem obter preços bastante diferentes de leilão para leilão. Basta pertencerem a uma tiragem especial, terem ou não terem as capas originais, serem ou não serem encadernados – e, neste caso, serem encadernações assinadas por um bom mestre do ofício, dado que há encadernações que valem mais do que o próprio livro que vestem –, estarem ou não estarem em bom estado de conservação... enfim, muitos são os factores que fazem com que um mesmo livro, de uma mesma edição, possa ter preços completamente diferentes. Por vezes, existem casos de livros de uma mesma edição, absolutamente iguais e com as mesmas características exteriores e interiores, atingirem preços completamente díspares num mesmo leilão, com o mesmo público. Basta estarem várias pessoas interessadas na mesma obra e que ela traduza alguma raridade. À medida que o preço vai subindo e se vai estabelecendo para o primeiro exemplar, a tentação pode ser de não deixar subir muito o valor do livro, dada a existência do outro exemplar, que poderemos arrematar por um preço idêntico ou próximo ao que deixámos arrematar por baixo. Mas podemos sofrer desilusões... Lá por um livro se ter vendido por um dado preço, não quer dizer que o outro exemplar se venda por idêntico. Basta que o público interessado continue a cobrir as ofertas para o seu valor poder ultrapassar, e por vezes em muito, o do exemplar anterior. É que o preço final só se fixa quando houver um único licitante. Mas também pode acontecer exactamente o inverso... haver mais disputa por um primeiro exemplar, do que por um segundo. A decisão e o comportamento a tomar dependem do conhecimento que se tiver do livro e do público do leilão.
Para o conhecimento "material" do livro, também a presente obra se mostra importante, dado que permite saber se se trata de um exemplar que aparece com grande, pouca ou rara frequência. É, assim, um indicador para o bibliófilo e para a História em geral. Um livro que aparece com frequência, mesmo que não seja barato, é, por regra, mais fácil de obter do que um que raramente surja no mercado. E é neste aspecto, o da existência "física" de determinados exemplares, que o presente livro pode revelar uma mais valia. Têm aparecido à venda, em leilão, obras completamente desconhecidas e jamais descritas em qualquer dos instrumentos bibliográficos à disposição dos estudiosos ou dos coleccionadores. É certo que a primeira e grande novidade coube ao catálogo, realizado pelo leiloeiro, que serviu de base ao leilão, dado que neste se compilam, no que diz respeito aos
exemplares vendidos, as informações neles constantes. Mas quantos dos investigadores do livro antigo têm hoje acesso a todos os catálogos dos diferentes leilões portugueses, realizados nos últimos anos? E, mesmo para aqueles que a eles eventualmente tenham acesso, a vida é-lhes facilitada por este novo instrumento de trabalho, dado que os apresentam de uma forma ordenada – que muitos e muitos dos catálogos de leilões não tem – e sistemática.
Para o conhecimento do público que frequenta os leilões é que não existem, com tantas garantias, instrumentos de trabalho. E é esse publico, com mais ou menos poder de compra, com mais ou menos conhecimentos, com mais ou menos preconceitos, que estabelece o valor, em leilão, do livro. Quantas vezes não iremos dizer, ao consultar a presente obra "que pena não termos estado presente neste leilão, pois esta obra que desejávamos foi vendida por um preço tão aliciante"... Fique o leitor com uma certeza: se estivesse estado presente, o preço final teria sido bastante mais caro, pois haveria mais um concorrente para a mesma obra ou para o mesmo exemplar. E qualquer coleccionador faz subir o preço de um livro, em leilão, pelo simples facto de desejar ardentemente ser seu possuidor. E só assim se justifica que um mesmo livro tenha atingido preços tão díspares em diferentes leilões. Não se julgue que o livro antigo está sempre em valorização. Encontrará ao longo da presente obra diferentes casos que comprovarão exactamente o oposto.
A posteriori, poderá dizer-se que, afinal, a sua vertente principal se revela como complemento indispensável a uma nova Bibliografia da produção de autores portugueses, ou relacionados com Portugal, do século XV ao XX. E foi esse também o entender dos autores, dado que complementaram o projecto com uma resenha dos diferentes títulos conhecidos, impressos por cada um dos autores cuja obra foi objecto de leilão. Sabemos que é uma tarefa ingrata fazer o inventário da produção científica de cada um. Muitas e muitas vezes repetimos erros (gralhas?) e omissões que bibliógrafos anteriores produziram, convencidos como estamos de que se eles descreveram assim é porque tiveram conhecimento do livro tal e tal... Mas quantos exemplares não passam de meros fantasmas, pois resultam de uma má transcrição ou descrição, ou de uma nova gralha produzida sobre outra gralha anterior... Por mais esforços que os autores tenham tentado, resta-nos uma certeza que é ao mesmo tempo um lamento: existirão sempre novos dados que virão completar os agora compilados. Já Francisco Vindel, com a sua grande sabedoria, escreveu que em bibliografia nada é definitivo.
Colónia, Fevereiro de 2006.
A priori, poderá dizer-se que a sua vertente principal é permitir – quer ao coleccionador quer ao bibliotecário quer ao comerciante quer ao investigador quer ao público em geral – saber o preço médio que determinado livro tem obtido no mercado ao longo dos últimos anos (1990-2003). Aparentemente seria essa a sua grande finalidade, o seu grande objectivo. Mas será assim, ou apenas assim? Certamente que não. Mas mesmo dentro deste aspecto mais "comercial", conhecer o valor do livro pode ser importante e chamar a atenção para o exemplar em apreço.
Em primeiro lugar, temos de compreender que os preços apresentados são os que determinados exemplares alcançaram neste e naquele leilão. E ambas as condições (exemplar e leilão) são importantes. Existem exemplares de uma mesma obra que podem obter preços bastante diferentes de leilão para leilão. Basta pertencerem a uma tiragem especial, terem ou não terem as capas originais, serem ou não serem encadernados – e, neste caso, serem encadernações assinadas por um bom mestre do ofício, dado que há encadernações que valem mais do que o próprio livro que vestem –, estarem ou não estarem em bom estado de conservação... enfim, muitos são os factores que fazem com que um mesmo livro, de uma mesma edição, possa ter preços completamente diferentes. Por vezes, existem casos de livros de uma mesma edição, absolutamente iguais e com as mesmas características exteriores e interiores, atingirem preços completamente díspares num mesmo leilão, com o mesmo público. Basta estarem várias pessoas interessadas na mesma obra e que ela traduza alguma raridade. À medida que o preço vai subindo e se vai estabelecendo para o primeiro exemplar, a tentação pode ser de não deixar subir muito o valor do livro, dada a existência do outro exemplar, que poderemos arrematar por um preço idêntico ou próximo ao que deixámos arrematar por baixo. Mas podemos sofrer desilusões... Lá por um livro se ter vendido por um dado preço, não quer dizer que o outro exemplar se venda por idêntico. Basta que o público interessado continue a cobrir as ofertas para o seu valor poder ultrapassar, e por vezes em muito, o do exemplar anterior. É que o preço final só se fixa quando houver um único licitante. Mas também pode acontecer exactamente o inverso... haver mais disputa por um primeiro exemplar, do que por um segundo. A decisão e o comportamento a tomar dependem do conhecimento que se tiver do livro e do público do leilão.
Para o conhecimento "material" do livro, também a presente obra se mostra importante, dado que permite saber se se trata de um exemplar que aparece com grande, pouca ou rara frequência. É, assim, um indicador para o bibliófilo e para a História em geral. Um livro que aparece com frequência, mesmo que não seja barato, é, por regra, mais fácil de obter do que um que raramente surja no mercado. E é neste aspecto, o da existência "física" de determinados exemplares, que o presente livro pode revelar uma mais valia. Têm aparecido à venda, em leilão, obras completamente desconhecidas e jamais descritas em qualquer dos instrumentos bibliográficos à disposição dos estudiosos ou dos coleccionadores. É certo que a primeira e grande novidade coube ao catálogo, realizado pelo leiloeiro, que serviu de base ao leilão, dado que neste se compilam, no que diz respeito aos
exemplares vendidos, as informações neles constantes. Mas quantos dos investigadores do livro antigo têm hoje acesso a todos os catálogos dos diferentes leilões portugueses, realizados nos últimos anos? E, mesmo para aqueles que a eles eventualmente tenham acesso, a vida é-lhes facilitada por este novo instrumento de trabalho, dado que os apresentam de uma forma ordenada – que muitos e muitos dos catálogos de leilões não tem – e sistemática.
Para o conhecimento do público que frequenta os leilões é que não existem, com tantas garantias, instrumentos de trabalho. E é esse publico, com mais ou menos poder de compra, com mais ou menos conhecimentos, com mais ou menos preconceitos, que estabelece o valor, em leilão, do livro. Quantas vezes não iremos dizer, ao consultar a presente obra "que pena não termos estado presente neste leilão, pois esta obra que desejávamos foi vendida por um preço tão aliciante"... Fique o leitor com uma certeza: se estivesse estado presente, o preço final teria sido bastante mais caro, pois haveria mais um concorrente para a mesma obra ou para o mesmo exemplar. E qualquer coleccionador faz subir o preço de um livro, em leilão, pelo simples facto de desejar ardentemente ser seu possuidor. E só assim se justifica que um mesmo livro tenha atingido preços tão díspares em diferentes leilões. Não se julgue que o livro antigo está sempre em valorização. Encontrará ao longo da presente obra diferentes casos que comprovarão exactamente o oposto.
A posteriori, poderá dizer-se que, afinal, a sua vertente principal se revela como complemento indispensável a uma nova Bibliografia da produção de autores portugueses, ou relacionados com Portugal, do século XV ao XX. E foi esse também o entender dos autores, dado que complementaram o projecto com uma resenha dos diferentes títulos conhecidos, impressos por cada um dos autores cuja obra foi objecto de leilão. Sabemos que é uma tarefa ingrata fazer o inventário da produção científica de cada um. Muitas e muitas vezes repetimos erros (gralhas?) e omissões que bibliógrafos anteriores produziram, convencidos como estamos de que se eles descreveram assim é porque tiveram conhecimento do livro tal e tal... Mas quantos exemplares não passam de meros fantasmas, pois resultam de uma má transcrição ou descrição, ou de uma nova gralha produzida sobre outra gralha anterior... Por mais esforços que os autores tenham tentado, resta-nos uma certeza que é ao mesmo tempo um lamento: existirão sempre novos dados que virão completar os agora compilados. Já Francisco Vindel, com a sua grande sabedoria, escreveu que em bibliografia nada é definitivo.
Colónia, Fevereiro de 2006.
João José Alves Dias
Nota do Blogue: Até à presente data apenas foi editado o 1º volume Livros e Manuscritos do Século XV e XVII, de um projecto ambicioso que segundo os autores: «O Valor do Livro Antigo em Portugal é a primeira publicação, a nível mundial, bilingue, onde é apresentada a valorização do livro antigo de autores portugueses e estrangeiros com publicações de interesse para Portugal. Contém também a mais completa bibliografia dos mesmos autores, alguma vez publicada. Tendo em consideração estas características, estamos certos que esta obra irá ser uma referência de consulta obrigatória por todos os interessados no livro antigo, privados e institucionais. O Valor do Livro Antigo em Portugal será publicado em vários volumes, cada um dos quais abordará primeiramente um século. A selecção dos autores incluídos nos diversos volumes tem como critério base os livros e manuscritos leiloados em Portugal desde 1990 até aos nossos dias. O aparecimento de um autor em leilão, cuja primeira edição do seu primeiro livro tenha sido publicada num determinado século, faz com que a informação relativa a todos os seus livros leiloados e a biobibliografia do mesmo seja inserida no volume correspondente a esse século.Este primeiro volume trata dos livros e manuscritos de autores nascidos até ao século XVI. Sendo bilingue (português e inglês), destina-se a ser distribuído por todo o mundo. Posteriormente, irão ser publicados os volumes correspondentes aos séculos XVII, XVIII, XIX e XX. Em cada uma destas publicações serão também incluídas actualizações dos leilões e biobibliografias constantes nos volumes anteriores. Informações detalhadas sobre as características da obra são dadas no capítulo Descrição do Livro.»
Optei por transcrever a introdução feita a esta obra pelo Prof. Dr. João Alves Dias, não só por ser de quem è, mas por a mesma tecer alguns comentários pertinentes sobre livros e leilôes.
Este livro encontra-se à venda no seguinte link (na edição normal por 150€ e numa edição especial por 270€):